domingo, 14 de novembro de 2010

O sino da igreja de Santana correu o risco de ser silenciado

No blogdobrown





Prefeitura autua Igreja de Santana. Leia o artigo de Zé de Jesus Barreto

Localizada em área de bares que funcionam produzindo ruído, a igreja foi autuada pelo som do sino (Fernando Vivas/Agência A TARDE)

Querem calar o badalar do sino

Não quero crer na notícia que estou lendo: ‘Prefeitura autua a Igreja de Santana por poluição sonora do seu sino’. Tá na Tarde de sábado, dia 13 de novembro de 2010. Acreditem!

Fora qualquer querela de ordem religiosa, que só nos remeteria a Idade Média, aos tempos da Reforma e da Contra-Reforma, com fogueiras, bruxas, matanças, inquisições… Passando bem longe também de quaisquer questões político-partidárias, eleitoreiras, não é o caso… Intolerâncias à parte, a questão da intransigência municipal ao badalar dos sinos da Igreja de Santana, do Rio Vermelho, é puro obscurantismo cultural e histórico.

Mais um factóide, tipo aquele outro do xixi na rua, que só nos envergonha perante a nação. ‘Baianada’, no dizer preconceituoso dos sulistas.

E logo na Cidade da Bahia, de suas cantadas 365 igrejas, onde os sinos dos campanários coloniais marcavam as horas, os eventos do dia-a-dia: desde a chegada de navio no porto a um casamento; a ‘ hora do ângelus’ e o enterro; o chamado à missa e as comemorações cívicas… Cada instante com seu toque diferente, com seu repique próprio para que a população soubesse, ao ouvir o badalar, do que se tratava.

Claro que os tempos são outros, um clic nos põe em contato com o mundo, aldeia global, espaço cibernético… E tal e coisa.

Mas, é o respeito a certos costumes que alimenta a alma de um povo, preserva a identidade, enriquece a sua história, atrai o turista. Isso é cultura.

O estranho nessa notícia é que as pessoas, pagas por nós, que deveriam cuidar da conservação de determinados valores… Ignorem o que é esta cidade. Desconhecem a história, pensam que cultura baiana é mexer a bunda no carnaval e pronto. Triste Bahia!

Gostaria de lembrar que, na administração municipal passada, início dos anos 2000, foi feito um convênio entre a Prefeitura, a Arquidiocese, o São Bento, São Francisco, a Catedral Basílica etc…para que os sinos voltassem a badalar às seis da tarde, como antigamente. Alguns jovens até foram treinados nos conventos e pagos pelo município para executarem os toques. Era bonito ouvir os sinos das igrejas do Centro Histórico na hora da Ave Maria. Mas… acabou. Como acabaram também com as concorridas trezenas de Santo Antonio, na Praça da Sé, e ainda com a encenação da Paixão de Cristo, durante a semana santa, nas águas do Dique do Tororó. Era um espetáculo, as bordas do dique tomadas de gente. Acabaram. Não me perguntem o porquê!

Agora, querem apagar o badalar dos sinos. Breve, se a gente vai permitindo, vão querer matar os galos que descobrem o manto da noite e anunciam o novo dia com sua cantoria; sufocar o latido dos cães na madruga, o trinado dos bem-te-vis e das rolinhas fogo-pagô ao amanhecer; vão brecar o relincho dos jegues que anunciam o meio-dia, calar os atabaques, o foguetório das alvoradas e dos festejos…

Isso tudo já, de fato, abafado na grande cidade pelo buzinaço dos carros, pelo motor do buzu que esfumaça o clarão do dia, pela histeria dos neuróticos, pelos incontroláveis decibéis dos carros de som e dos mal-educados de porta-malas arreganhados berrando pagodeira em cada esquina. Ah, tudo liberado aê! Os 120 e tantos decibéis dos trios elétricos a qualquer hora e oportunidade também! Faz parte!

Ora, o badalar dos sinos! Home quá sinhô me deixe!

* Zédejesusbarreto (jornalista e escrevinhador) 13/nov2010

Nenhum comentário:

Postar um comentário